assaltar a memória até que só seja possível lembrar. tratamento de choque. mexe em tudo que tá dentro, empurra pra fora, ilumina com o sol, tira tudo isso da penumbra. tipo batida policial. não fica nada no lugar. cheiro de mofo e muita cena saturada: olha pra tudo, investiga, repassa cada entrelinha até decorar o detalhe; sem chance de deixar pra lá.
pronto, fim, tá tudo dito: a entrega do relato. e aí é uma ressaca de dar dó. vazio, desilusão, preguiça, banzo. tirar tudo a limpo pra quê? fazer o que com essa sobra toda? vai deixando ali, pensa mais um pouco, depois parece que nem lembra. vai fazer outra coisa. lê uma bula de remédio ou uma receita de bolo, fuma um cigarro, toma uma dose, caminha no vento, suporta a jornada.
se fazer saber é antes de tudo olhar pro medo. fim ou começo, não dá pra dizer, é só uma coisa sentida que não se encaixa no tempo. mas é algo que atravessa a gente feito lâmina. uma incerteza ligando este exato momento a um outro agora que nos encontrará aqui, nesta esquina, onde a gente tá parado enquanto não sabe bem o que fazer. o que temos é este pequeno instante entre o aceitar e o escolher, porque o que interessa mesmo é alguma coisa que a gente ainda desconhece.
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