A delicadeza despretensiosa da flor que se submete a este mundo. A natureza sempre se recupera enquanto violamos a nós mesmos. Um ir e vir de vida em confronto com a morte; mil pedras pelo
sempre voltamos atrás: não tente negar. sempre voltamos a algum ponto de dor, dúvida, amor... e nem se sabe disso, mas é amor. um eterno ir e vir sem pena ou perdão, simples assim - ver-se como
nada que se diga é coerente com a cabeça que se deita no travesseiro, atravessa a noite, sonha e ri, mas não se despede. o eterno retorno, como fosse uma maldição. o dia se repete e se repete e
as palavras que faltam agora querem dizer um pouco menos do que já disseram. falta a elas uma energia de quem se consome ao mesmo tempo que se satisfaz. o silêncio absoluto enquanto se imagina um
Um amigo me enviou uma crônica na manhã de domingo. Eu tenho esse tipo de sorte: curadores atentos me fazem feliz apenas por sensibilidade. O texto tinha a ver com uma conversa da madrugada
às vezes, nem posso acreditar em quem eu sou, talvez porque meu corpo pareça ter sido muitos ao mesmo tempo que tudo parece ter começado só hoje pela manhã. empilhadas umas sobre as outras - toda
Voltava sempre a conversar com galhos secos na esperança que o dia pudesse permanecer intacto; nada que trouxesse a esperança de uma bandeira gloriosa, faiscante, hasteada a um palmo do nariz. Às
a praia estava encharcada. o mar tragou quase toda a areia pra si, enquanto a neblina se esticou no que sobrou da faixa. o vento lastima todo mundo, nem mar que não se mexa ou nevoeiro que não
absolutamente nada era capaz de mudar o ímpeto de fazer sempre a mesma coisa. tinha a convicção de que a rotina não se adaptava bem ao seu próprio jeito de ser; era, digamos assim, uma visão um
Meu corpo tem dificuldade de medir o tempo. Olho pra foto, pisco uma vez, e é como se fosse ali, anteontem ou semana passada; a presença é inevitável.
Pisco de
mergulhar na experiência, oferecer o corpo ao desconhecido, entrar na cena do outro. é como se a coerência fosse alguma coisa que só existisse antes e no fim, mas se rompesse bem no meio
o tempo é de altos e baixos. tão inconstante quanto correr uma semana sim e duas não. na próxima corrida, é comum que falte
estava com os dentes apertados como quem corta com a boca o bife, a pele, a renda. marcava com as presas talhos nas paredes para lembrar do que já tinha esquecido.
Escrever é uma forma de me esvaziar. E quando me falta a palavra, o vazio, pra mim, é tédio e amargura. É quando nada se acende; é um fim sem começo. Dessa vez, não. Agora é uma completude que me
Um vazio que se completa na oposta sensação de transbordar, como fosse essa chuva que nos despreza inundando tudo. É como perder, outra vez, alguma coisa que
a ingenuidade é uma palavra que me cerca. não sei se me sinto ingênua ou se não suporto os ingênuos. ou se as duas sensações me perseguem. às vezes, é como se a ingenuidade fosse um suco batido
as palavras absolutas inexistem. sempre estão a revelar um estado do agora sem permanências que as cerquem. mais que isso, tentam fazer do agora alguma coisa que ele nem mesmo é. as
um imenso cansaço toma conta da cidade. as paredes não aguentam mais ouvir as lamúrias de tantos eus individualizados, preocupados com a invenção de si mesmos nas redes sociais. o concreto queima
escrevo bobagens enquanto espero dar a hora de sair penso em uma ou duas alternativas cuidar de plantas e estudar a vida das saúvas lembro das notícias que não param de chegar o fluxo do
eu entrego o corpo à experiência como um caminho por onde cruza uma linguagem. é uma maneira de me comunicar com o que é desconhecido. como se fosse uma mediunidade sem a mística. é contemplação,
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