absolutamente nada era capaz de mudar o ímpeto de fazer sempre a mesma coisa. tinha a convicção de que a rotina não se adaptava bem ao seu próprio jeito de ser; era, digamos assim, uma visão um tanto equivocada de si mesma. repetia-se, de tempos em tempos, conforme a estação: chorava no outono e se lamentava no inverno, quase como uma tradição de quem é da praia. a repetição parecia-lhe uma novidade; mas era sempre o mesmo susto, sempre o mesmo torpor.
não se sabe o que fez transbordar tudo aquilo que sempre esteve ali, na contenção, sem se deixar escapar. um lapso de tempo foi suficiente para, enfim, dar-se conta das voltas repetidas que deu em si mesma.
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