fica sempre uma palavra para trás
um gesto que não se explica
uma falta e depois outra
o tempo passa sem simetrias entre nós
calcificando os sentidos da palavra repetida a sós
repensada, gesticulada, mal interpretada
mãe de novas ausências que se arvoram
depois de ontem, antes do amanhecer
o tempo perde a palavra, o gesto
o contorno do corpo
e uma saudade difusa
se faz perdida no caos de qualquer sentido
de resto, uma penumbra que mistura
desejo, incerteza, significância
a saudade encarcera
um verso não dito, um desejo suprimido
um gesto que não se explica
sob uma linha tênue que nos separa do real
onde sobras se amontoam na escuridão
esperando que a versão do fato compartilhado
seja simétrica a sensação do corpo solitário
as palavras se repetem em outros lares
procuram novas moradas
os gestos se refazem e
sempre parecem menos genuínos
são mais repetitivos, reproduzem apatia
fica sempre um pouco do que deixamos para trás
e esse outro pouco que carregamos
depois da despedida
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