• palavra livre

    a palavra está desalinhada no caos do meu sossego

    foge da assertividade de quem tem pouco a dizer

    nunca imaginei a palavra muda enquanto a injustiça goteja

    sobre a

    ...
  • vício

    escrevo por gosto e vício,

    desejo rarefeito pelas

    palavras dissuadidas 

    feito saliva na ponta da língua.

    escorregadio, o texto

    salga a

    ...
  • sessão

    névoa e náusea esfumaçam o sótão

    embriagam as virtudes 

    enquanto sufocam as palavras 

    dançam entre a boca e o umbigo

    por onde trafegam soluços e

    ...
  • retina

    a cor da noite é invisível 

    quando cai sobre a retina

    como pálpebra em pleno voo

    rasgando céu sem horizonte

    chuva silenciosa que cria leitos 

    salga a

    ...
  • palavra na pétala

    a flor de hibisco

    pétala morta

    no abismo da louça

    dissolve o veneno da manhã

    as palavras, por si mesmas, se exaltam

    como sopro quente nos

    ...
  • antes da palavra

    o vigor velado da palavra

    não apaga a dor do tempo

    nem névoa lavanda

    ou mil campos imaginários

    ladeados de verde - o

    ...
  • ficção

    a delicada presença do agora

    tateada pela aspereza das mãos

    a pele fina percorrida

    pela sutileza do lábio

    a silhueta da fruta

    ...
  • ...

    hablo con tu silencio 

    conspiro un dolor sobre tu pelo en mi mano

    el silencio tiene una sonrisa que cambia mis sueños

    abre mis ventanas me hace un grano de

    ...
  • humano médio

    sou calango neo-pós-moderno

    caminhante da desilusão

    um cascalho solitário

    transeunte na imensidão

    componho minha renda

    desejo minha própria

    ...
  • ancestral

    trança no rabo do cavalo

    mandinga de senhoras invisíveis

    lavadeiras de fonte

    voadeiras de vassoura

    fiandeiras de trama e de renda

    dispensam

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  • amanhecer

    a rebeldia da insônia que ultrapassa o amanhecer

    relatada na profundidade da olheira 

    o tédio da noite passada

    gosto de ver o

    ...
  • poemo-te

    te poemo no vento que sopra do leste

    maral que varre a praia

    emplastra pele, poros, corpos

    areia e maresia

    te poemo sob tempestade

    suportando o

    ...
  • depois

    fica sempre uma palavra para trás

    um gesto que não se explica

    uma falta e depois outra

    o tempo passa sem simetrias entre nós

    calcificando os sentidos da palavra

    ...
  • sonoridade

    um hit um baque um toque

    ensurdecendo a dor que arde pulsa

    como um tambor um atabaque

    pulsa de dentro um tic e outro tac

    uma nota que invade tudo

    e nada se

    ...
  • cai

    escorre 

    pela copa das árvores

    rasteja até as margens

    inunda

    transborda

    rio caudaloso até a última gota.

    secura e pó

  • dignidade rebelde

    a rebeldia tem cara de dor

    chora nas margens

    não se rende e tem um risco salgado

    ...
  • Do avesso

    no inverso sou eu
    dizendo que sim
    apostando que não

    soprando pelas calhas
    como ventania de inverno
    no meio do redemoinho
    costurada ao avesso
    o dedo amargo na

    ...