um encontro pode nos mostrar muitas coisas. pode ser o momento inevitável de suportar algo tão familiar quanto misterioso. como um estranhamento que desarticula: um movimento que a gente não faria; um dizer ou gesticular meio falso e quase milagroso. pode ser um não como afirmação de algo vivido, procurando outras dentro de si reféns delas mesmas. as margens borradas entre cheios e vazios.
encontrar alguém pode ser o ponto em que a palavra se perde. ou uma repetição ingênua que espera por alguma coisa diferente disso ou daquilo. ou qualquer coisa rasgada pela assimetria do tempo, como o voo cadente de uma pálpebra.
é como se houvesse alguém cavando um buraco no quintal pela madrugada, enterrando um eu qualquer, morto mas vivo, sorrindo enquanto desaparece sob uma pá e outra de areia úmida. é como dar conta, enfim, de um oculto variável, muitas vezes insuportável e deprimente, mas que é apenas uma parte. de certo modo, um lugar onde pode haver também algum descanso.
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