as palavras que faltam agora querem dizer um pouco menos do que já disseram. falta a elas uma energia de quem se consome ao mesmo tempo que se satisfaz. o silêncio absoluto enquanto se imagina um passar de dedos entre os cabelos ou um simples gesto de presença a quem possa interessar. uma chegada cheia de cansaço ou uma calma viciante que dá vontade de chorar. é como trocar toda a volúpia do mundo - por livre e espontânea vontade - antes mesmo de dizer adeus às coisas que faziam o corpo e o espírito alucinar. uma vida nova sem começo que agora parece um fim cheio de esperança. esperança... sempre me irritei com essa palavra, talvez porque ela tenha um tom de utopia (o que, em contradição, me agrada pensar) ou um compasso de covardia (foi o que sempre acreditei!). tenho ainda toda a esperança do mundo de ver o sol no oceano ou caminhar por uma rua desconhecida que me leve de volta a qualquer canto que pareça um lugar de conforto. as palavras dizem pouco, as presenças são equivalentes ao tédio, o horror corre solto. mas, bem no ínfimo em que se encontram estes eus perdidos e solitários, parece haver uma vontade de que aconteça algo incapaz de ser visto a olho nu. as palavras que faltam são, enfim, a chegada daquilo que não é preciso dizer.


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