A ideia incontestável e o desejo de aniquilação do outro é a trapaça do sentido da palavra. Talvez, porque se quer calar o horror que é ver-se tão de perto, lá onde as aparências já não conseguem esconder este demônio que também nos habita. Tripudia-se de uma moralidade para se estabelecer tão violentamente moralista em outra.
Somos um eu cada vez mais solitário ou, mesmo que sejamos um nós, nada além de um conjunto encerrado em si mesmo que absolutiza verdades: uma vaidade que não nos leva a lugar nenhum. Assim como doer-se de si mesmo, enraivecer-se, culpar o mundo e se vitimizar é um processo inescapável, mas inútil se não seguimos em frente.
Quem sabe estejamos aqui para suportar o que perdemos e nos reinventarmos na aproximação, na singeleza das coisas que não podemos tocar, mas podemos dizer. E sem ter o que perder, se permitir a um aprendizado lento e incompleto, até que seja possível recuperar uma faísca embandeirada, um deleite inteligível para transformar tudo aquilo que arranca de nós a humanidade.
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