tento me divertir para esquecer que sou triste. essa verdade que tudo se faz para esconder, mas que bem no fundo do olho é capaz de se notar. é um brilho difuso que ilumina para fora enquanto bloqueia a luz para o lado de dentro. a minha tristeza se instituiu na memória quando eu ainda nem supunha ser e foi se aprofundando com as tantas afirmações da desilusão. passo muito tempo sem chorar, como uma oportunidade que se perdeu diante desse vazio inconstante. sou triste e tento esquecer com alegria agora e depois de amanhã, em um ritmo que não suporta o silêncio e o ócio. uma solidão que embrutece e me obrigada a me misturar com tudo ao meu redor, só gozo. acho que por isso interajo tanto. ouço todo tipo de música, dialogo com qualquer ambiente, ocasião ou pessoa, me disciplino para múltiplas habilidades. me afeto com tudo, me embriago desse todo volumoso, mas o faço para me cansar, para que seja possível esquecer dessa tristeza sem nome que fez do meu corpo morada. sofro com cada desilusão como se fosse a primeira vez sem me dar conta que tudo é uma repetição da contratura de origem; não tenho crença, não respeito bulas e cartilhas, não me submeto. sigo, no entanto, empinando a cabeça como quem cavalga pelo universo fingindo a força que não tem. carrego comigo os restos das jornadas incompletas que deixei para trás. me desespero com o tempo que passou e me angustio em perceber o tanto que ainda estar por vir. apesar de tudo, me visto para o novo dia, aceito a perda e volto para o meu caminho em busca de algo inusitado: o deslumbramento em torno daquilo que se pode construir nas incertezas. vivo pelo pequeno momento em que algo imprevisível aconteça e me faça elaborar novas rotas. a tristeza é parte importante, mas não é a única a me constituir.
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