o cotidiano é um fundo de quintal com casca de laranja enterrada e um cachorro papa-ovo deitado numa toalha de banho velha. uma tarde de sol de inverno enquanto o pai lê um livro de Bang-bang deitado na grama. a mãe é uma estátua de mármore amassando pão com um turbante vermelho na cabeça. quem poderia imaginar um dia sequer sem a intolerância do dia a dia, repetitivo, egoico e cheirando a água salobra. tem aroma mais inventado que cheiro de praia? dizem que a memória é de protetor solar ou de milho verde. mas, é de musgo. e resto de peixe carcomido por gatos degradados e famintos.
narrar uma história quem sabe fosse somente pensar isso mesmo. a imagem de quem vive onde e as infinitas representações disso e daquilo. talvez um conto seja só a memória ou um pensamento instantâneo. em um cenário qualquer, um ninguém ante um fluxo do pensamento sem começo nem fim; um ir e vir de palavras secularmente significadas; instaladas lá dentro sabe-se lá como: um filme, um livro, um desenho animado, um cotidiano com o pai de mármore e a mãe que lê e se odeia.
se tiver que dar sentido a escrita como se faz com cada coisa que vira palavra eu simplesmente não quero mais escrever.
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