a ingenuidade é uma palavra que me cerca. não sei se me sinto ingênua ou se não suporto os ingênuos. ou se as duas sensações me perseguem. às vezes, é como se a ingenuidade fosse um suco batido pela mãe, às quatro da tarde, regando as crianças sedentas no quintal; ou como se ela se estirasse por toda a faixa de areia de uma vida inteira percorrida bem devagarinho. a ingenuidade é previsível e entediante como essa oração anterior. os ingênuos têm uma convicção alegre (às vezes, fervorosa) de quem acaba de se converter: emocionam, mas não servem pra muito. a ingenuidade é comovente, acende uma esperança no aqui e no agora, incensando toda a coisa ruim que vem da realidade. é o lar de uma confiança adocicada que me apetece tanto quanto me dá náuseas. como um bolo com muito açúcar e gordura hidrogenada que é prazeroso só na primeira garfada. é um conforto imediato pra quem ainda precisa acreditar.


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