Um amigo me enviou uma crônica na manhã de domingo. Eu tenho esse tipo de sorte: curadores atentos me fazem feliz apenas por sensibilidade. O texto tinha a ver com uma conversa da madrugada anterior em que eu dizia não acreditar em muitas coisas, enquanto a amiga interlocutora estava convencida sobre alguma comunicação "entre céu e terra". Eu não. Não tenho fé, assim como não gosto de cultos a personalidades e também sou avessa aos deslumbramentos que não sejam por paisagens naturais, ou claro, boas conversas e uma comida ou bebida saborosas.
A crônica enviada pelo amigo no domingo de manhã trazia consigo uma possibilidade: uma escrita passível de me deslumbrar. "Rir. Nadar. Cozinhar para os amigos. Dançar", dizia em tom de alívio. Talvez, eu diria também, que há um doce deslumbre em ouvir um bom instrumental, escrever uma poesia, apreciar a arte sem indústria, andar pela contramão em tempos de ódio e ignorância. Ter com quem contar. Ainda escrevermos a lápis em um bloco de notas. Ter coragem de viver para amar uma filha, um gato ou um banho num mar revolto e longe de casa. Da pra se deslumbrar com pouco e esperar o fim sem se lamentar tanto. Acho que está nisso o aprendizado dos últimos tempos.
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