amanhecer
a rebeldia da insônia que ultrapassa o amanhecer
relatada na profundidade da olheira
o tédio da noite passada
gosto de ver o sol nascer
com os olhos acelerados
a rebeldia da insônia que ultrapassa o amanhecer
relatada na profundidade da olheira
o tédio da noite passada
gosto de ver o sol nascer
com os olhos acelerados
te poemo no vento que sopra do leste
maral que varre a praia
emplastra pele, poros, corpos
areia e maresia
te poemo sob tempestade
suportando o ímpeto
de nunca encontrar descanso
te poemo entre brisa, bruma, tempo
revolvendo a terra, resgatando
nauta, náufrago, movimento
te poemo.
fica sempre uma palavra para trás
um gesto que não se explica
uma falta e depois outra
o tempo passa sem simetrias entre nós
calcificando os sentidos da palavra repetida a sós
repensada, gesticulada, mal interpretada
mãe de novas ausências que se arvoram
depois de ontem, antes do amanhecer
o tempo perde a palavra, o gesto
o contorno do corpo
e uma saudade difusa
se faz perdida no caos de qualquer sentido
de resto, uma penumbra que mistura
desejo, incerteza, significância
a saudade encarcera
um verso não dito, um desejo suprimido
um gesto que não se explica
sob uma linha tênue que nos separa do real
onde sobras se amontoam na escuridão
esperando que a versão do fato compartilhado
seja simétrica a sensação do corpo solitário
as palavras se repetem em outros lares
procuram novas moradas
os gestos se refazem e
sempre parecem menos genuínos
são mais repetitivos, reproduzem apatia
fica sempre um pouco do que deixamos para trás
e esse outro pouco que carregamos
depois da despedida
um hit um baque um toque
ensurdecendo a dor que arde pulsa
como um tambor um atabaque
pulsa de dentro um tic e outro tac
uma nota que invade tudo
e nada se recupera
canto conto clave
dó maior que este pulsar
não tem no mundo
som que ensurdeça mais
que esse músculo sonoro descompassado
batuque em ritmo acelerado
colidindo até rasgar a couraça velha esgaçada
um instrumento da memória no tempo que pulsa
pulsa uma nota uma batida esse eterno tic-tac
bomba relógio que atravessa
couro e músculo e dor
uma batida que não pára pulsa
um beat um toque um baque
de novo e nunca para de pulsar