o tom cinza da semana dá a exata gradação da tristeza desses dias. o vento rude desfolhando as árvores que contrastam com o céu do fim de tarde. a chuva incontornável que afoga a ínfima vontade de sorrir.

tenho o privilégio, ao menos, de escrever enquanto isso.

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precisamos cuidar da nossa própria vida; este é o lema, de fato. o ser humano se individualizou tanto que, por certo, sempre tem mais com o que se preocupar quando o limite é o muro ou a parede que separa a vizinhança. pressa, estresse, angústia.

acenamos positivamente para a importância desse eu mimado e consumista; chegamos a nos vangloriar de uma sociedade que nos "permite sermos nós mesmos". na contradição, nos mantemos parte das hordas humanas que têm a força de trabalho como único meio de sobrevivência. nenhuma ilusão consumista pode ser acessada sem crédito.

no fim das contas, ainda somos quem proleta (reproduzindo mão de obra excedente para o sistema e trabalhando para sustentá-la, porque a célula familiar é o que importa). acreditamos mais nas diferenças entre nós do que nas semelhanças. não fomos capazes de fazer nada por nós mesmos e nem por ninguém. parece, talvez, diante de toda essa euforia positiva do eu, que compomos um conjunto disforme caminhando para o seu fim.

 

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tenho vivido esses dias

como se tivesse tomado

anestesia na gengiva 

a carne dentro da boca

toda mordida sem doer

 

depois formiga tudo e dói

a mucosa despedaçada

e uma pressão que dá vontade

de morder, chorar, morrer

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a vida é um cavalo de batalha intercalando piqueniques e festas de aniversário. é noite de tempestade esperando tardes ensolaradas e mergulhos no mar gelado. eu acho que ela pode ficar um pouco menos complexa quando a gente aceita ouvir as vozes invisíveis que falam de dentro pra fora.

a interlocução pra dentro de si compromete a gente, mas também liberta do orgulho (ou pelo menos tenta). enquanto se é cética consigo mesma, há sempre um traço de imaturidade e soberba que nos leva a uma revolta desmedida. bom mesmo é ir entendendo as coisas em conjunto. mundo lá fora, mundo aqui dentro; tempestade e piquenique.

essa conexão é bem mais sutil do que crenças em deus ou nos astros. há um ser sociológico solitário, individualista, dentro da gente que interage com aquilo que a gente é e nem sabe. às vezes, temos vergonha de assumi-lo (o moralismo berra no nosso ouvido); outras temos medo de aceitar as nossas fragilidades (mas, todas continuam ali, pra quem quiser ver!). 

eu gosto de dar o tal mergulho na água salgada e gelada: o olho arde, o corpo treme, mas abre os brônquios, faz a gente respirar de novo.

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