fica sempre uma palavra para trás

um gesto que não se explica

uma falta e depois outra

o tempo passa sem simetrias entre nós

calcificando os sentidos da palavra repetida a sós

repensada, gesticulada, mal interpretada

mãe de novas ausências que se arvoram 

depois de ontem, antes do amanhecer

 

o tempo perde a palavra, o gesto 

o contorno do corpo

e uma saudade difusa

se faz perdida no caos de qualquer sentido

de resto, uma penumbra que mistura

desejo, incerteza, significância 

 

a saudade encarcera

um verso não dito, um desejo suprimido

um gesto que não se explica

sob uma linha tênue que nos separa do real

onde sobras se amontoam na escuridão

esperando que a versão do fato compartilhado

seja simétrica a sensação do corpo solitário

 

as palavras se repetem em outros lares

procuram novas moradas

os gestos se refazem e 

sempre parecem menos genuínos

são mais repetitivos, reproduzem apatia

 

fica sempre um pouco do que deixamos para trás

e esse outro pouco que carregamos

depois da despedida

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um hit um baque um toque

ensurdecendo a dor que arde pulsa

como um tambor um atabaque

pulsa de dentro um tic e outro tac

uma nota que invade tudo

e nada se recupera

 

canto conto clave

dó maior que este pulsar

não tem no mundo

som que ensurdeça mais 

que esse músculo sonoro descompassado

 

batuque em ritmo acelerado

colidindo até rasgar a couraça velha esgaçada

um instrumento da memória no tempo que pulsa

pulsa uma nota uma batida esse eterno tic-tac

bomba relógio que atravessa 

couro e músculo e dor

uma batida que não pára pulsa 

um beat um toque um baque 

de novo e nunca para de pulsar

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escorre 

pela copa das árvores

rasteja até as margens

inunda

transborda

rio caudaloso até a última gota.

secura e pó

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a rebeldia tem cara de dor

chora nas margens

não se rende e tem um risco salgado

que rasga a cara lavada ao meio  

a rebeldia geme de dor

- na hora de fazer não foi tão bom?

 

ela não volta atrás nem se arrepende

porque sabe que não tem como voltar

 

a rebeldia não se escolhe

se faz escolhida

é de carne e de osso e se mexe o tempo todo

 

a rebeldia é feita de horror

é uma solitária na multidão

 

é conjunto de dedos, mãos

pra um novo tempo que virá

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