a dúvida exige o silêncio

não sei o que se pode ser

depois de perder 

aquilo que a gente nem tinha

 o silêncio é como um consolo

a conversa se passa entre esta

e qualquer uma que nem se sabia

ser ou estar; um barulho que desatina

o consolo que desfaz a dúvida

como algo possível capaz de 

estancar isso que nos enche de tudo

e nos esvazia de nós

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a praia estava encharcada. o mar tragou quase toda a areia pra si, enquanto a neblina se esticou no que sobrou da faixa. o vento lastima todo mundo, nem mar que não se mexa ou nevoeiro que não seja obrigado a entrar na dança. alguém desafia o tempo e a baixa temperatura: entra no mar com uma prancha, ou na lagoa com uma rede. pegadas vão e vem, gente trabalha nas obras, cachorros sem dono latem pras nuvens e um cheiro de esgoto que dá vontade de chorar. a praia está sitiada. é uma miragem de lodo e concreto.

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absolutamente nada era capaz de mudar o ímpeto de fazer sempre a mesma coisa. tinha a convicção de que a rotina não se adaptava bem ao seu próprio jeito de ser; era, digamos assim, uma visão um tanto equivocada de si mesma. repetia-se, de tempos em tempos, conforme a estação: chorava no outono e se lamentava no inverno, quase como uma tradição de quem é da praia. a repetição parecia-lhe uma novidade; mas era sempre o mesmo susto, sempre o mesmo torpor.

não se sabe o que fez transbordar tudo aquilo que sempre esteve ali, na contenção, sem se deixar escapar. um lapso de tempo foi suficiente para, enfim, dar-se conta das voltas repetidas que deu em si mesma.

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as palavras se atravessam

é uma rebelião sem argumento.

estão esmiuçadas entre si e

não suportam significar mais nada 

se entregam à banalidade.

 

as palavras estão ovulando e

não querem nem saber:

o gozo imediato alivia tudo que não conseguem dizer.

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