uma órfã de palavras

bastardo, o sentido sem argumento

apenas um desnível

em que a língua

nem precisa mais estar aqui

as letras de uma literatura trêmula

que batem asas

no compasso de um frame

a luz que resseca a retina

um tempo sobre o cadafalso

aquilo que olha e que vê

e lá se vão

olhos pele musculatura

o dó de si mesma ou

uma nova tentativa de se repetir

pela desimportância do que quer que seja

nascer e morrer de novo é sempre simples assim.

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Voltava sempre a conversar com galhos secos na esperança que o dia pudesse permanecer intacto; nada que trouxesse a esperança de uma bandeira gloriosa, faiscante, hasteada a um palmo do nariz. Às vezes, era possível realizar-se assim, em um pequeno almoço entediante, sentada à mesa entre árvores estéreis. Mas, tudo não passava de vigília, uma noite mal dormida que se fazia cotidiana. Nada era capaz de equivaler-se ao desejo de imergir em águas turvas que gerassem caos. Mantinha-se embriagada pelo tédio que atravessa essa floresta noturna e descansável, enquanto esperava por tempestades tortuosas no escuro. O onírico é sempre uma forma de pedir socorro.

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a dúvida exige o silêncio

não sei o que se pode ser

depois de perder 

aquilo que a gente nem tinha

 o silêncio é como um consolo

a conversa se passa entre esta

e qualquer uma que nem se sabia

ser ou estar; um barulho que desatina

o consolo que desfaz a dúvida

como algo possível capaz de 

estancar isso que nos enche de tudo

e nos esvazia de nós

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a praia estava encharcada. o mar tragou quase toda a areia pra si, enquanto a neblina se esticou no que sobrou da faixa. o vento lastima todo mundo, nem mar que não se mexa ou nevoeiro que não seja obrigado a entrar na dança. alguém desafia o tempo e a baixa temperatura: entra no mar com uma prancha, ou na lagoa com uma rede. pegadas vão e vem, gente trabalha nas obras, cachorros sem dono latem pras nuvens e um cheiro de esgoto que dá vontade de chorar. a praia está sitiada. é uma miragem de lodo e concreto.

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