a súplica

o engasgo

o embaraço

tudo gera rubor

a cara incha

os olhos espiam

só por um fenda

linha que recorta

o calor

a boca

ressaca até a garganta

um ente que rastela

este chão petrificado

os ombros entregues

enquanto uma lua ilumina

mais um céu: cintilante e ausente.

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aceitava a ideia de que podia sobrevoar a praia, 

em um cavalo alado, pela madrugada. 

saía à procura da umidade que se assenta

em torno dos combros de areia. 

era como fosse uma perda completa

enquanto encontra outra de si 

que só se deixa ouvir através do vento, 

da fumaça que descortina uma outra silhueta

havia de tudo muito pouco

uma mensagem a quem interessar possa

ou a simplicidade com que se escuta o silêncio

apenas o sensível e o docemente original

as gargalhadas, as luzes, o ir e vir

misturados a escuridão vagarosa, quase ameaçadora

de um querer solto, suspenso na sua incompletude

assim como fosse possível ecoar

todos esses nós que havemos de ser

numa dimensão ainda invisível

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as palavras que faltam agora querem dizer um pouco menos do que já disseram. falta a elas uma energia de quem se consome ao mesmo tempo que se satisfaz. o silêncio absoluto enquanto se imagina um passar de dedos entre os cabelos ou um simples gesto de presença a quem possa interessar. uma chegada cheia de cansaço ou uma calma viciante que dá vontade de chorar. é como trocar toda a volúpia do mundo - por livre e espontânea vontade - antes mesmo de dizer adeus às coisas que faziam o corpo e o espírito alucinar. uma vida nova sem começo que agora parece um fim cheio de esperança. esperança... sempre me irritei com essa palavra, talvez porque ela tenha um tom de utopia (o que, em contradição, me agrada pensar) ou um compasso de covardia (foi o que sempre acreditei!). tenho ainda toda a esperança do mundo de ver o sol no oceano ou caminhar por uma rua desconhecida que me leve de volta a qualquer canto que pareça um lugar de conforto. as palavras dizem pouco, as presenças são equivalentes ao tédio, o horror corre solto. mas, bem no ínfimo em que se encontram estes eus perdidos e solitários, parece haver uma vontade de que aconteça algo incapaz de ser visto a olho nu. as palavras que faltam são, enfim, a chegada daquilo que não é preciso dizer.

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a poesia é uma chance

de contar com algo

que sempre esteve ali 

mas não se podia enxergar;

uma bola que reluz

sob um céu escuro

à margem de uma massa de água navegável.

 

a poesia é uma gargalhada

que se motiva num infinito tangenciável,

um caminhar ausente entre as luzes da cidade

enquanto um tanto de gente eufórica

se aglomera pelas avenidas.

um ritmo

um doce

uma possível mirada

para o que ainda é possível querer.

 

a poesia é contingente de palavras

amenas quando explode a guerra;

é o que se tem a dizer sem necessidade de explicar.

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