uma gota pinga

ensurdecedora

uma vez duas três sinais

em nome de algum verso

transbordando de dentro da boca

como fosse vulcânico

o vento rasteiro esfarelando a terra

um redemoinho que resseca os olhos

assalta os contidos

um desejo abrupto de rasgar

a carne e o tempo na mesma fenda

aberta a facão

estopa e fumaça

para estancar esse asco repetitivo e exagerado

uma gota estridente na paisagem opaca.

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o barulho entrou armado na sala e disparou contra o silêncio. brincou de tiro ao alvo com as coisas que não estavam ali, sobre a mesa. no corredor, um tiro certeiro na lâmpada há tempos apagada. o barulho disparou contra o silêncio do quarto vazio que, sangrando, gemeu sem voz como nos sonhos. no rangir da máquina de lavar, o barulho lavou as roupas transparentes que vestiam o silêncio, agora nu, sobre a cama. satisfeito e solitário, o barulho saca o isqueiro e acende um cigarro.

~abril de 2015~

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eu queria ser surfista, a mãe disse que não era profissão, aí queria ser dançarina, ela achou meio absurdo, eu queria ir embora com o circo, mas ao cabo de toda a controvérsia, eu não podia decepcionar a mãe, então sempre estudo mais um pouquinho pra fazer qualquer coisa. enfim, não sei muitas coisas, apenas que, às vezes, as mães são esse poço de insatisfação, escondidas atrás de um livro (ou de um tweet cheio de positividade tóxica). uma força da natureza, amar a mãe é incontrolável e original demais. sobrepõe a arte e o corpo, não consigo evitar. quem é a mãe, afinal?

~setembro de 2022~

a menina
a mulher
a mãe

a mulher
depois da mãe
a mãe
depois da mãe

a mãe
a mulher
a menina

~março de 2015~

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o riso é contingente da raiva

a raiva na contenção da tristeza

a tristeza contida na falta

que comprime o desejo.

um vulto torto

parado na esquina

eu posso ver aqui da janela. 

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