"A loucura é o ápice da consciência". Foi uma frase que eu ouvi não sei de quem e sei lá se alguém escreveu isso mesmo. Mas, eu acho que a frase é boa porque favorece a palavra loucura. Dá a ela
Uma coisa que eu acho bem bonita (e inteligente) é quando aceitamos suportar linguagens que não são as nossas de conforto para que seja possível viabilizar uma
a guerra é incontestável e afeta todo mundo. atravessa o tempo, a história e o corpo perdido no entardecer chuvoso. as luzes e as buzinas, a escuridão mais à frente, o cheiro de pólvora: um campo
tanta coisa ficou por dizer que agora nem interessa mais. sobrou esse descontentamento silencioso fantasiado de alegria exagerada, quase furiosa. parece pouco, mas rir já é alguma coisa: uma
assaltar a memória até que só seja possível lembrar. tratamento de choque. mexe em tudo que tá dentro, empurra pra fora, ilumina com o sol, tira tudo isso da
o barulho entrou armado na sala e disparou contra o silêncio. brincou de tiro ao alvo com as coisas que não estavam ali, sobre a mesa. no corredor, um tiro certeiro na lâmpada há tempos apagada.
eu queria ser surfista, a mãe disse que não era profissão, aí queria ser dançarina, ela achou meio absurdo, eu queria ir embora com o circo, mas ao cabo de toda a controvérsia, eu não podia
desobstruir as artérias até que alguma coisa volte a correr pelas veias. oxigenar o corpo da angústia dos dias a fio sem pensar. levantar com as horas dos mais sedentos e dormir a noite toda.
um encontro pode nos mostrar muitas coisas. pode ser o momento inevitável de suportar algo tão familiar quanto misterioso. como um estranhamento que desarticula:
muitos pensadores já nos explicaram o conceito de correlação de forças. acho basilar pra pensar tudo na vida e não ser um pimpão.
mas, de certeza, é em casa que o aprendizado começa. a vó
o propósito da vida talvez não tenha a ver com descobri-lo, mas aceitá-lo como um desconhecido e suportá-lo enquanto ausência. essa é uma divagação que a gente já deve ter lido por aí. mas mesmo
o cotidiano é um fundo de quintal com casca de laranja enterrada e um cachorro papa-ovo deitado numa toalha de banho velha. uma tarde de sol de inverno enquanto o pai lê um livro de Bang-bang
Era dos poucos excelentes no jornalismo de esquerda e sindical. Do Brasil. Ativista. Sempre posicionado, sempre mantendo
o tom cinza da semana dá a exata gradação da tristeza desses dias. o vento rude desfolhando as árvores que contrastam com o céu do fim de tarde. a chuva incontornável que afoga a ínfima vontade
precisamos cuidar da nossa própria vida; este é o lema, de fato. o ser humano se individualizou tanto que, por certo, sempre tem mais com o que se preocupar quando o limite é o muro ou a parede
a vida é um cavalo de batalha intercalando piqueniques e festas de aniversário. é noite de tempestade esperando tardes ensolaradas e mergulhos no mar gelado. eu acho que ela pode ficar um pouco
há duas ou três semanas, comecei a retomar um lugar na rua. sempre fui dali. a praia, o carnaval, o protesto, o boteco, o jornalismo. sou andarilha e gosto de gente. viver trancafiada nunca foi
os dias, todos, podiam ser uma manhã de sábado. sol esfumaçado, gosto de café. meia dúzia de tragadas esverdeadas soprando ideias que esfumaçam ainda mais o amarelo do sol. pelas ruas, canções de
a confusão é generalizada, não bastasse o descostume de viver junto, tudo é mediado; muito ruído interpretado no silêncio da solidão. ninguém sabe mais dizer quem fala ou pensa o quê. as ideias
quando eu morrer, quero que todos chorem e ouçam fado. quero que escureçam a sala e dancem passos a esmo. quero que fumem cigarros e bebam conhaque. quando eu morrer, quero que todos riam de
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