Por que tudo importa demais? Até uma suposta impressão: nunca o que verdadeiramente é. Como se olhar pelo olho do outro fosse possível. Ou como se fazer sentido mudasse alguma coisa de lugar. Com
combinavam. sabiam tudo de si e até um pouco mais, embora isso sempre seja uma ilusão. os dias de verão cintilavam, era quase impossível reconhecer dois corpos a certa distância. não que não
o silêncio pela casa se movimentava como o vento nas cortinas. nada parecia ter sobrado de pé, era só poeira que a janela aberta deixou entrar durante o vendaval. a solidão era como uma voz
tento me divertir para esquecer que sou triste. essa verdade que tudo se faz para esconder, mas que bem no fundo do olho é capaz de se notar. é um brilho difuso que ilumina para fora enquanto
as palavras vacilam na boca sem o menor compromisso de voltar. cantam, assim, coisas que não querem dizer como se o não não fosse uma forma de negar o desejo. as palavras batem asas na garganta
Escrever tem sido um ato mais introspectivo do que político. Tenho me permitido dar mais importância a uma escrita "molecular". Não que eu tenha sucumbido de vez ao individualismo. Tentar
O azul das águas molda a vermelhidão das rochas. Não se sabe, ao certo, quando tudo começou ou se, uma dia, haverá um fim. Só conhecemos essa harmonia que conecta movimento e solidez: a vida
Escrever tem a ver com aquilo que nos aciona. Pode ser sobre um pequeno movimento que locomove alguma coisa dentro da gente. Ou sobre aquilo que a gente vê, deixa passar despercebido, mas não
Conhecer a si é um processo que requer coragem: permitir abrir as ideias para o desconhecido que nos habita e assumir que, nem sempre, somos aquilo que pensamos ser.
Olhar para dentro não
entender o movimento do corpo orienta o olhar para dentro. abrir a porta do sótão, ouvir o ranger das dobradiças, deixar a luz entrar lentamente, remexer nos
é tempo de apagar do corpo toda a dor, quando o sol ainda aquece o outono e, por todos os lados, cresce a calmaria nos litorais. na enseada, Maria caminha enquanto refaz mentalmente o trajeto dos
era a primeira madrugada do inverno e a noite parecia uma flâmula de fumaça sobrepondo as embarcações.
vagar pela cidade é diferente de caminhar para o trabalho. a sensação também é outra, comparada à da criança que corria pelas ruas colecionando
a base disciplinar da catequese cristã e da cartilha comunista maltrata a cabeça, mas prepara. as profundezas por onde navegam as suas contradições - isoladas ou justapostas - são as mesmas de
a campainha tocou, tive medo. silêncio.
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